Em nosso corpo, há basicamente três tipos de tecidos musculares: estriado esquelético, estriado cardíaco e liso, os quais estão presentes nos diversos sistemas orgânicos (digestório, urinário, cardiovascular entre outros).
Quando pensamos em “sistema muscular”, fazemos referência ao sistema locomotor, cujo componente muscular é do tipo estriado esquelético e será o principal foco deste texto. A anatomia dos músculos é essencial para o entendimento de afecções do sistema locomotor, instituição de terapias de reabilitação física, técnicas operatórias etc.
As funções dos músculos estriados esqueléticos são relacionadas principalmente à locomoção, sustentação e estabilização, bem como manutenção da temperatura corporal, pois gera energia em forma de calor ao realizar contrações. Estruturalmente, é composto por uma parte central carnosa contrátil que forma os ventres (ou cabeças) musculares, e por uma parte branca resistente sem capacidade contrátil (os tendões) nas extremidades (Fig. 3), que é formada por tecido conjuntivo denso modelado.
Os tendões fazem a fixação do músculo em ossos (Fig. 3), ligamentos, aponeuroses (tendões em formato laminar, como aquelas dos mm. da parede anterolateral do abdome; Fig. 5), fáscias, pele (mm. da mímica p. ex.), globos oculares (Fig. 4), mucosas (no caso da língua p. ex.). Estas estruturas serão mobilizadas pela força contrátil produzida no músculo. Portanto, os músculos basicamente apresentam dois pontos de fixação nomeados de fixação proximal e distal. Alguns autores nomeiam essas fixações funcionalmente da seguinte forma: origem (o ponto de fixação que se mantém fixo durante o movimento) e inserção (ponto que se movimenta em direção à origem). Entretanto, nesta última metodologia, os nomes podem se inverter conforme a mudança da direção em que o movimento é realizado (Fig. 3).
É o processo fisiológico pelo qual os músculos geram força, podendo ou não resultar em movimento. Quando ocorre, o movimento se dá por um sistema de alavancas em torno de um ponto fixo (chamado de fulcro, representado pelos ossos na maioria dos casos) sob a ação de uma força de esforço (que causa o movimento, gerada pela contração) e outra de resistência (oposta ao movimento, gerada pelo peso de um segmento corporal ou carga a ser movida; Fig. 6). Podem ser divididas em diferentes tipos:
Reflexa: automatizada, ou seja, há influência de um controle involuntário do sistema nervoso. Por exemplo, os movimentos do reflexo miotático e os movimentos involuntários do diafragma.
Tônica: responsável pelo tônus, um estado de contração mínimo basal do músculo sem produzir resistência ativa. Por exemplo, contração dos músculos responsáveis pela manutenção da postura.
Fásica do tipo isotônica: o comprimento do músculo é alterado, podendo ser:
- Concêntrica: há encurtamento muscular.
- Excêntrica: ao longo da contração, há aumento gradual do comprimento muscular, sendo comum nos músculos antagonistas do movimento (ver "classificação funcional").
Fásica do tipo isométrica: o comprimento mantém-se constante ao longo da contração, mas a força aumenta gradualmente contra uma força de resistência externa (empurrar um objeto p. ex.).
Planos: fibras dispostas paralelamente e frequentemente seus tendões formam aponeurose (tendão em formato laminar). Exs.: mm. da parede anterolateral do abdome (oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome).
Fusiformes: em formato de fuso, ou seja, o ventre é arredondado e mais espesso com as extremidades afiladas. Ex.: m. bíceps braquial.
Peniformes: a disposição das fibras forma um padrão que lembra um formato de pena, podendo ser divididos em:
Semipeniforme: formato da meia pena, como o m. extensor dos dedos.
Peniforme: formato de pena completa, como o m. reto femoral.
Multipeniforme: múltiplos padrões em pena, como o m. deltoide.
Triangulares: em uma extremidade as fibras abrangem uma grande área, convergindo para uma pequena área na extremidade oposta. Formado parecido com um leque. Ex.: m. peitoral maior.
Quadrados: apresentam formato quadrangular. Exs.: ventres do m. reto do abdome.
Circulares: também chamados de esfincterianos; suas fibras formam um círculo em torno de um orifício. Exs.: m. orbicular dos olhos, m. orbicular da boca.
De múltiplos ventres: possuem mais de uma cabeça de fixação em uma das extremidades, como os mm. bíceps braquial, tríceps braquial, quadríceps femoral. Outra possibilidade é que apresentem múltiplos ventres em série, como os mm. digástrico e reto do abdome.
Agonista: o principal gerador da força de esforço, sendo o protagonista na realização de determinado movimento; contrai de forma concêntrica.
Antagonista: realiza contração excêntrica de forma contrária à ação do agonista para controlar e estabilizar o movimento.
Fixador: realiza contração isométrica para estabilizar partes proximais, concentrando as forças onde o movimento deve ser executado.
Sinergista: complementa e auxilia a ação do agonista.
São também chamadas de fáscias profundas e são formadas por tecido conjuntivo denso modelado, o qual contém fibras colágenas organizadas em multicamadas juntamente com fibras elásticas. Assim, são estruturas laminares resistentes, densas e elásticas que revestem os músculos e outros elementos do sistema locomotor, realizando também transmissão de forças mecânicas, pois limitam e dividem compartimentos osteomusculares. Atenção: não confunda com as fáscias superficiais, que são encontradas em meio ao tecido adiposo subcutâneo.
Podem ser divididas em dois tipos:
Fáscia muscular aponeurótica: mais espessa, superficial, envolvendo muitos músculos; é separada da fáscia muscular epimisial, exceto em algumas regiões de inserção fascial. Ex.: fáscia lata (localizada na coxa).
Fáscia muscular epimisial: corresponde ao epimísio, é mais delgada, situada mais profundamente em relação à aponeurótica e recobre músculos individualmente. Ex.: epimísio do quadríceps femoral.
Para esclarecer melhor a organização dessas essas camadas são organizadas, tomaremos a coxa como exemplo. Em meio ao tecido subcutâneo encontra-se a fáscia superficial e, profundamente a esta, há a fáscia muscular aponeurótica da coxa (chamada de fáscia lata) que forma uma lâmina circunferencial. Esta emite lâminas que adentram entre os músculos, formando septos fibrosos que limitam os compartimentos musculares da coxa. Além disso, mais intimamente associada aos músculos encontra-se a fáscia muscular epimisial de cada um deles (Fig. 16).
Para fazermos uma breve revisão da fisiologia da contração muscular, trouxemos esses dois vídeos com animações narradas e explicadas pela fisioterapeuta e docente Natália Reinecke, criadora do canal educacional "Anatomia e etc" no Youtube Educação.
Bons estudos!
Bibliografia:
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
ROHEN, Johannes W.; YOKOCHI, Chihiro; LUTJEN-DRECOLL, Elke. Color Atlas of Anatomy: A Photographic Study of the Human Body. 7 ed. 2011.
TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.